Era meio estranho, porque eu nunca gostei
muito dele, assim, de verdade. De verdade. Acho uma idiotice quando as pessoas
dizem isso, mas eu própria digo. Ninguém gosta de brincar. E se diz que sim,
não gosta. Porque quem gosta, gosta, de verdade. E eu gostava dele na brincadeira. Eu não gostava dele. É meio complicado. Nós discutíamos muito, mas
nem era porque nos amávamos ou tínhamos aquele amor-ódio, era mesmo porque eu
não o suportava. Achava graça, mas não gostava. Durou muito tempo. Nunca lhe
facilitei nada e ele achava graça a isso. Ok, achávamos os dois graça, então.
Ok, passamos a querer estar juntos. Ok, eu queria-o muito. E ele a mim. Mas eu
não gostava dele, nem ele de mim, de verdade. Melhor assim. Sorríamos,
trocávamos olhares, nada mais. Só desejo um do outro. Mas um dia, ele, burro,
imbecil, sei lá o quê, beijou-me. O desejo foi embora. Não, eu não
senti nojo, nem desgostei. Devia. Mas eu gostei. Gostei muito. E o amor caiu e
foi parar ao meu coração. Entreguei-me, mas sempre com um pé atrás. Dizia não,
batia o pé, resmungava, mas amava. Ele sabia. Ele descobriu no fundo dos meus
olhos que era amor e aí eu não consegui mais negar.
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