Quando alguém que tem
sempre tanto para dizer se cala é porque quer que oiças além de tudo aquilo que
pode ser dito, além de todas aquelas palavras que nunca hão-de passar disso
mesmo. É porque aquilo que tem para te dizer é tão mais importante do que tudo
aquilo que te disse até então. É porque se apercebeu de que, por muitos textos
que já te tenha escrito, tu nunca foste capaz de te esforçar por ler as entrelinhas. Tu
sempre tomaste as palavras (muitas das vezes já gastas) como garantidas.
Tornaste-as vulgares, e sem qualquer valor. Até o sentido perderam. No início,
ainda as lias e relias. Não descansavas enquanto não encontrasses o verdadeiro
significado de tudo aquilo. Mas, com o tempo, essa tua vontade insaciável de
compreender o incompreensível acabou por se perder algures por aí. É pena,
sabes? Eu gostava de te escrever. Eu gostava de quando te abria todo o meu
coração e tu, ainda que muitas das vezes a medo, o retribuías. Aquilo que
deixavas por dizer era sempre muito mais do que aquilo que dizias. Mas eu nunca
me importei. Ao contrário de ti, sei ler as entrelinhas. E não há nada que
tenhas deixado por dizer que eu não tenho tentado compreender. Quando alguém te
escreve é porque quer ser compreendido por ti, e disso ninguém tem dúvidas. Mas
quando alguém se cala.. Quando alguém se cala é porque está cansado, é porque
as palavras já não são suficientes. É porque alguém que toma as palavras como
garantidas não merece lê-las. Não mereces um texto de duas ou três páginas, nem
uma mensagem de bom dia com meia dúzia de carateres. Não agora. Não depois de
teres vulgarizado a única coisa que sempre me deu todo o alento de que
precisava para continuar aqui. Foi ao escrever sobre ti que me apercebi do
quanto te adoro e isso, por si só, já devia ser suficiente para te fazer ler-me
e, mais do que isso, esforçar-te por perceber tudo aquilo que nunca fui, não
sou, nem nunca hei-de ser capaz de te dizer. Que o silêncio fale por mim. Pelo
menos, por enquanto.
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