sexta-feira, 27 de julho de 2012


Quando alguém que tem sempre tanto para dizer se cala é porque quer que oiças além de tudo aquilo que pode ser dito, além de todas aquelas palavras que nunca hão-de passar disso mesmo. É porque aquilo que tem para te dizer é tão mais importante do que tudo aquilo que te disse até então. É porque se apercebeu de que, por muitos textos que já te tenha escrito, tu nunca foste capaz de te esforçar por ler as entrelinhas. Tu sempre tomaste as palavras (muitas das vezes já gastas) como garantidas. Tornaste-as vulgares, e sem qualquer valor. Até o sentido perderam. No início, ainda as lias e relias. Não descansavas enquanto não encontrasses o verdadeiro significado de tudo aquilo. Mas, com o tempo, essa tua vontade insaciável de compreender o incompreensível acabou por se perder algures por aí. É pena, sabes? Eu gostava de te escrever. Eu gostava de quando te abria todo o meu coração e tu, ainda que muitas das vezes a medo, o retribuías. Aquilo que deixavas por dizer era sempre muito mais do que aquilo que dizias. Mas eu nunca me importei. Ao contrário de ti, sei ler as entrelinhas. E não há nada que tenhas deixado por dizer que eu não tenho tentado compreender. Quando alguém te escreve é porque quer ser compreendido por ti, e disso ninguém tem dúvidas. Mas quando alguém se cala.. Quando alguém se cala é porque está cansado, é porque as palavras já não são suficientes. É porque alguém que toma as palavras como garantidas não merece lê-las. Não mereces um texto de duas ou três páginas, nem uma mensagem de bom dia com meia dúzia de carateres. Não agora. Não depois de teres vulgarizado a única coisa que sempre me deu todo o alento de que precisava para continuar aqui. Foi ao escrever sobre ti que me apercebi do quanto te adoro e isso, por si só, já devia ser suficiente para te fazer ler-me e, mais do que isso, esforçar-te por perceber tudo aquilo que nunca fui, não sou, nem nunca hei-de ser capaz de te dizer. Que o silêncio fale por mim. Pelo menos, por enquanto.

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