Eles pouco ou nada
sabiam sobre amor, mas gostavam um do outro. Não se amavam, e disso tinham a
certeza. Mas gostavam de estar juntos, e isso era suficiente. Já não era de
agora.. Há já algum tempo que andavam num impasse descomunal. Não sabiam o que
haviam de fazer. Na verdade, nunca haviam feito a mínima ideia de como era suposto
tratarem-se um ao outro. Nenhum deles era capaz de ver a sua relação como um
simples passatempo. Mas também não eram namorados, e ainda muito longe estavam
disso.. Discutiam dia sim dia não, e isso era quando falavam. Por vezes,
passavam dias sem saber o que seria feito do outro. E queriam saber.. Oh se
queriam! Mas qual dos dois o mais orgulhoso? Para eles, as coisas quase nunca
eram simples, muito menos fáceis. Nunca estavam de acordo, e pouco tinham em
comum. Mas gostavam de estar juntos, e de pensar que isso era suficiente..
Talvez nem sempre fosse. Se calhar, às vezes teria sido necessário algo mais.
Uma só mensagem de boa noite que fosse teria feito a diferença. E de um pedido
de desculpa naquele momento certo então, disso nem se fala.. Teria sido
perfeito, e melhorado em muito a sua relação. Eles não sabiam tão pouco que
nome dar ao que sentiam. Ela pensava que ele não lhe dava valor, e ele tinha
medo que ela o magoasse.. Quando estavam juntos, a conversa pouco ou nada
mudava. Falavam sempre sobre as mesmas coisas, e acabavam sempre por nunca
chegar a conclusão alguma. Ele acabava sempre por a meio da conversa calá-la
com um beijo. E ela, apesar de quase sempre contrariada, lá se perdia algures
nele e optava por deixar a conversa para depois. Mas, afinal de contas, o que
raio era aquilo que tanto os unia? Ela não fazia ideia, mas sorria de cada vez
que se lembrava de que os beijinhos que ele antes lhe dava no nariz agora eram
na testa e pensava que da mesma maneira que isso mudou aquilo que ele sentia
por ela poderia também um dia vir a mudar. Ele quase nunca se preocupava em
encontrar respostas para as perguntas que surgiam, e essa era uma das coisas
que ela mais gostava nele. A sua despreocupação por vezes tão irritante,
transmitia-lhe uma paz de alma de outro mundo. E era exatamente aquilo que ela
ambicionava para o futuro. Sem tirar nem pôr. Por entre as mil e uma discussões
que tinham, acabavam sempre por perceber que apesar de não se amarem queriam
voltar a tentar. Prometiam sempre que seria a última oportunidade que dariam a
si próprios. Nunca era. Se lhes perguntassem, nem eles mesmos saberiam qual o
porquê de tantas tentativas (muitas das vezes) em vão. A ela, diziam-lhe que
não valia a pena, que o "dado" estava viciado e que as coisas iriam
voltar a acontecer tal e qual como antes, que se iria dar um replay autêntico dos últimos meses. A ele,
ninguém dizia nada. Ele não queria que se soubesse e, por isso, ninguém sabia..
Era quase como se ela não fizesse parte da vida dele. Pelo menos, não para quem
estava do lado de fora. Eles tinham maneiras diferentes de ver o mundo e
encarar a realidade, de lidar com o seu passado, de demonstrar aquilo que
sentiam um pelo outro.. Mas acreditavam que assim como o Yin e o Yang se
completam, eles poderiam também um dia vir a completar-se um ao outro.
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