Lembro-me como se tivesse sido ontem da primeira vez que me
desiludiram. Refiro-me, claro, à primeira vez que um rapaz me desiludiu, que
senti que o mundo tinha deixado de fazer sentido só porque alguém me tinha
virado as costas. Só porque alguém que nunca pensei que algum dia fosse ser
capaz de o fazer me havia deixado para trás, e havia seguido em frente.
Sozinho. Por sua conta e risco. Como se eu nunca tivesse sequer feito parte da
sua vida. Na altura, eu não passava de uma criança. Ingénua como a maior parte
das (quase) raparigas de 15 anos têm por hábito ser. Disse a mim mesma mil e
uma vezes que nunca mais iria apaixonar-me por quem quer que fosse, que o meu
coração estava fechado à chave e que nunca mais alguém iria conseguir ocupá-lo
como ele havia conseguido. Entretanto, conheci um outro alguém. Esse alguém
fez-me confiar em si com tudo o que tinha. Nunca me deu certezas da mais
pequena coisa, mas eu sabia. Por algum motivo que ainda hoje não sei qual foi,
eu sabia que podia dar-lhe o que tinha de mais precioso. Ou pensava saber.
Entreguei-lhe o meu coração quase de bandeja, e só me faltou mesmo dizer-lhe faz
com ele o que quiseres. Não lho disse, mas foi com certeza o que ele
entendeu. Começou por cuidar dele, mas acabou a desfazê-lo em bocadinhos. Ele
podia até tê-lo deixado como que um puzzle, mas não. Fez do meu coração pó.
Deixou-o completamente desfeito. Os bocadinhos que em tempos ainda haviam dado
para colar com carinho um por um hoje em dia andam perdidos algures por aí. E
agora é aquela parte em que te conheço e me apercebo de que talvez, só talvez,
tu sejas capaz de o fazer. De os colar, de voltar a juntá-los, de me dar alguma
esperança, de me fazer crer que ainda nada está perdido. É aquela parte em que
falo sobre ti, sobre uma das melhores pessoas que conheci até hoje, sobre uma
das que mais bem alguma vez me fez. Eu adoro-te com tudo o que tenho. Mas
agora, depois do que acabaste de ler, és capaz de (finalmente) perceber quão
difícil é para mim voltar a confiar em quem quer que seja? Quão difícil é para
mim fazer algo por ti porque de todas as vezes em que fiz algo por alguém fui
eu quem saiu a perder? Por muito que queira, por muito que o meu coração me
diga que sim, a minha cabeça há-de sempre dizer-me que não. E só eu sei aquilo
por que já passei, a quantidade de noites em que não fechei tão pouco os olhos
porque fui cabeça oca e não lhe dei ouvidos. Só eu sei o porquê de ter todas as
certezas e mais algumas de que nunca mais hei-de fazer por alguém metade do que
fiz por cada um deles. Se queres ser o meu number
one, se não és capaz de perceber que nunca hei-de venerar-te ou whatever, se queres que confie
em ti de olhos fechados, que te diga que te adoro a toda a hora ou que o
demonstre, esquece. Não é que tu não o mereças, porque mereces. Mais do que
qualquer outra pessoa no mundo. Mas há coisas que nos transcendem, que estão
fora do nosso controlo. E isto está fora do meu, sabes? E eu, quanto a isso,
pouco ou nada posso fazer. Cada um é como cada qual. Ou me aceitas como sou,
fria até dizer chega e a fazer asneiras a torto e a direito, ou desistes de mim
tal e qual como desistiu cada um deles. Só espero que te lembres sempre de que,
por vezes, quem menos
demonstra é quem mais sente.
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