Tenho saudades da minha melhor amiga. Daquela L. que não saía
do pé de mim, que era incapaz de me largar por um só segundo que fosse e que ia
comigo até ao fim do mundo se fosse preciso. Que se fosse preciso ir até ao fim
do mundo para que eu fosse feliz não pensava duas vezes, dava-me a mão e ia
comigo. Ou que, por vezes, me obrigava a ir consigo. Porque era ela quem sabia
o que era melhor para mim. Era ela quem me fazia ver as coisas como eram na
realidade, e não distorcidas como muitas das vezes os sentimentos as tornavam.
Literalmente ou não, era ela quem estava do meu lado a toda a hora. Eu sabia
que nunca havia de sentir-me sozinha, e que havia de ter sempre quem cuidasse
de mim. Ela protegia-me como ninguém, punha a minha felicidade acima da sua e
punha-me a mim acima de qualquer outra pessoa do mundo. E só eu sei o quanto
gostava da importância que ela me dava. No fundo, ela estava lá para mim de
cada vez que eu estava mais em baixo e precisava de um sorriso amigo. E não só.
Eu apaixonava-me e desapaixonava-me, achava piada a este e àquele, e ela estava
lá. Era ela quem me fazia ver que nem todas as loucuras que eu estava disposta
a cometer deviam ser cometidas. Fosse qual fosse a ocasião era certo e sabido
que ela estaria do meu lado. E toda a gente o sabia. Quem sabia como era a
nossa amizade deixou de nos ver como a L. e a I., e começou a ver-nos como uma
só. Mas, afinal de contas, não era isso mesmo que nós éramos? Eu não
"funcionava" sem ti, e tu não "funcionavas" sem mim. De
cada vez que não te tinha por perto era quase como se o mundo estivesse prestes
a acabar. Sentia-me incapaz de tomar qualquer decisão sem o teu consentimento,
de fazer o mais pequeno movimento por não saber se era (ou não) o mais correto.
Na verdade, eu dependia de ti. E talvez até muito mais do que devia. Muito mais
do que tu alguma vez dependeste de mim. Sempre te adorei por demais. Mas que
tal falarmos sobre estes últimos tempos? Já perdi a conta de quantas vezes fui
eu quem deu o braço a torcer. De quantas vezes fui eu quem teve de ir falar
contigo, e pedir-te desculpa por coisas de que nem sequer tinha culpa. E tudo
porque sou incapaz de viver sem ti. Tenho-me sujeitado a coisas a que nunca
pensei que algum dia fosse sujeitar-me por quem quer que fosse. Estou cansada
de que venham ter comigo, e me perguntem o que raio nos aconteceu. Que me digam
que parecemos diferentes. E tem piada, sabes? As pessoas dizem-me que parecemos
diferentes, e eu sou incapaz de lhes dizer que isso é porque já não somos as
mesmaa. Sou incapaz de lhes dizer que a nossa amizade cada vez se parece mais
com tudo menos com algo verdadeiro. O que eu mais temia que acontecesse acabou
por acontecer. Tu deixaste de te importar connosco e eu, apesar de a muito
custo, estou prestes a deixar de me importar contigo também. Nós estamos nas
tuas mãos, e já não é de agora. Não achas que está na altura de fazeres algo
quando a isto? I mean,
quanto a mim? Estás mesmo disposta a deixar-nos ficar por aqui? A deixar que
uma amizade que em tempos já fora tão bonita morra? Não tens saudades nossas?
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